quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Janeirão!

Muito tempo tem desde que fiz a minha última postagem. Muitas coisas aconteceram desde a passagem do ano. Uns bons, outros nem tanto.


Vários meses após estar trabalhando no hotel, encontrei a Marta (uma brasileira que trabalha comigo) fora do hotel para conversarmos, foi super legal, é uma garota super "cabeça" e que já está cá há 5 anos e está aplicando para ficar aqui de vez, disse-me hoje que falta apenas submeter a aplicação, e eu estou torcendo por ela quanto a isso (e com a certeza de que ela alcançará seus objetivos). Na noite supracitada, contou-me dos perrengues que aqui passou e o quanto foi difícil chegar até aqui, o que a tornou uma pessoa de muito valor e de muitas conquistas.


Quanto a mim, mudei-me para uma sharehouse. Moro no centro de Perth (William Street) com um suíço chamado Bruce e com um inglês chamado Ash. A mão do Ash é brasileira e ele fala um pouco de português. Tem sido divertido praticar inglês com diferentes sotaques e diferentes formas de ver a vida.


No dia 19/01 tive um susto gigantesco. Por "acaso" fui checar a minha documentação, e deparei com uma coisa absurda: A DATA da minha volta para o Brasil estava marcada pra 24/01. Sim, a agência comprou a passagem errada e por 5 dias eu quase perdi uma passagem valendo quase 2 mil dólares. Quando ví que estava na semana do vôo, me deu um frio na barriga e eu fiquei realmente preocupado. Larguei tudo e corri no escritório da Emirates, expliquei a minha situação e consegui remarcar a passagem, mas tive que pagar uma multa meio salgadinha (mas, melhor do que perder a passagem). Fiquei realmente chateado pelo fato de que a agência, que deveria me "orientar" ter me causado mais esse problema. Enfim, depois do problema resolvido, voltei à escola e terminei meu dia de estudos.


O trabalho está meio "devagar quase parando" devido à crise e ao período (início de ano) que costuma ser meio "devagar", pois todo o povo já gastou seu rico dinheirinho nas festas de final de ano e natal. Dizem que em fevereiro a economia volta a girar.

Essa é a minha última semana do módulo na escola, dia 01/02 eu termino e pego 1 mes de férias. mês esse que usarei para fazer a renovação do vissto.

Quinta passada encontrei o Amaral (jogador de futebol brasileiro que atua no Perth Glory (ex-Corinthians)), só na hora que eu estava indo embora pude cumprimentá-lo. Aqui ele passa por uma pessoa normal, diferentemente do que acontece no Brasil.



No dia 26/01 foi o Australian Day. Todo o povo vai para as margens do Swan River ver a queima de fogos (que foi a maior que eu já ví aqui). Disseram-me que seria a maior festa do país, mas eu ainda acho que eles são fraquinhos pra fazer festa. Deu 10:30 da noite, acabaram-se os fogos e todo mundo foi embora pra casa. Em 5 minutos, um local que estava repleto tornou-se um deserto.

Por esses dias tive a alegria de falar com alguns amigos que estão no Brasil, e isso me encheu de saudades. Sorte que o tempo aqui passa depressa.

E a vida cá segue como estava, hora "boring", hora "exciting". Meu inglês melhorando "step by step" e o rumo que vou tomar depois do período na Austrália ainda não está definido. :)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

3 meses -> Balanço

"Periquito Australiano", gritavam em côro e em tom jocoso os meus coleguinhas da pré-escola. Eu, orgulhoso que já era desde infanto, procurava manter naturalidade por fora enquanto por dentro aquilo me corroía, baixei a cabeça e olhei para a minha lancheirinha azul com estampa dos "smurfs"que também estavam sorrindo, parecendo também zombar de mim. Embora pequeno, já contava com o senso do que é correto e não poderia eu reclamar já que o apelido fora me dado pela professora, que estava cansada do meu jeito tão falante e de ter colocado apelido em cada um da sala.


Mal sabíamos que este apelido após mais de duas décadas viria a calhar. Anos após, esse apelido seria esquecido e foi trocado por muitos outros, dos melhores aos piores, alguns que tentavam tirar onda com a minha disfluência verbal, mas que nunca pegaram porque eu sempre consegui lidar bem com isso, e sempre fazia piadinhas do gênero (ainda faço), e uso como ferramenta de integração e de humor. Após a sucessão de apelidos, chegou-se ao "Picles", um "shortname"do meu nome, que na Austrália virou "Pico", que também significa "Picles".



Voltando às memórias da minha pré-escola, não mais ví a maioria das pessoas que estudaram comigo. Relembro-me de uma garota chamada Mirian, que a essa altura da vida já deve ser mãe de filhos já em idade escolar, como eramos. Outros que as vezes encontro na cidade dos meus pais quando lá vou. Alguns prosseguiram os estudos e tiveram sucesso, outros, continuam na mesma vidinha e no mesmo lugar, empacotando compras e vivendo das reles oportunidades que a pequena cidade de Taquaritinga lhes dá.



Enfim, cheguei à Austrália. Algo que para mim era um sonho, mas que demorou para cair a ficha. Amanhã completo 3 meses que pisei pela primeira vez em solo australiano. O relógio local marcava 1.00am do dia 06/10/2008, com olheiras provenientes da viagem e da estadia de Dubai, a confusão do meu corpo com o fuso horário e a excitação por estar em uma nova terra e começar uma nova vida me tomaram.

Desde que cá cheguei, tenho sido um dos únicos aqui da escola que até então passou em todas as provas para subir de nível. Em 3 meses já estou no nível intermediário (que diga-se de passagem, é superior ao nível upper-advanced do Brasil). Continuo o aluno que era na pré-escola, agitador de classe. Isso se deve ao meu foco (estudar, estudar, trablhar, trablahar). Sinto-me sozinho em uma cidade de 2 milhões de habitantes.
Muito embora reconheça que era um tanto desligado da família no Brasil, eu podia visitá-los quando quisesse, agora, fico feliz por um telefonema. Ontem eu estava em uma onda de solidão, coisa que jamais achei que sentiria, pois sempre morei fora e me considerei um homem "forte" quanto a sentimentos; o meu pai estava fora de casa, minha mãe estava em seu trabalho voluntário (sim, ela costura para os pobres), falei apenas com o meu irmão, e isso me deu uma falsa sensação de que estou aqui abandonado.


A vida Australiana é uma oscilaçào de sentimentos. Divido a minha vida em: Profissional, pessoal, familiar e sentimental. Recentemente perdi 25% dos motivos pelos quais voltaria para o Brasil, pois alguns planos que eu mantinha para a minha volta ruiram. Dos de motivos que eu tinha pra voltar para o Brasil, sobraram poucos e estão contra-balanceandos com os que eu tenho pra cá ficar (que são muitos), a saudade da minha família é o que mais conta (coisa que muitas vezes deixamos de dar valor quando estamos perto). Entendi então o sentido da palavra "homesick" e "friendsick", muito utilizada por aqui. A época de final de ano e festas é a mais dolorosa para quem está longe de tudo e de todos.

Passar o final de ano com japoneses, suiços e poloneses foi muito bacana, o povo da Austrália também é bastante acolhedor e me trata muito bem. Não é raro o dia em que estou trabalando e as pessoas vem conversar comigo, perguntar como estou, alegrando meu dia com um sorriso.
Mesmo assim, sei que em pouco tempo, todos os "folks" estarão de volta aos seus países, e a Austrália ficará apenas na lembrança de cada um, pessoas sonhadoras que deram a volta ao mundo em busca do seu melhor. É bom, é lindo, mas é "vazio". Passei até sentir falta da comunidade religiosa a qual pertenço, coisa que confesso que era relapso.

Os cangurus, as lindas praias, tudo isso enche meus olhos, mas ainda é pouco pra preencher o vazio que ganhei no coração.

Tenho certeza de que quando pisar no Brasil, vou me chocar com a realidade, pois me acostumei com a organização da Austrália. Talvez eu queira voltar, mas por hora tenho saudades e orgulho dos meus pais, de como conseguiram sobreviver e criar filhos em uma terra tão hostil, sem-vergonha e sem-lei como o Brasil. Por terem conseguido me educar, me ensinar princípios de honestidade e conduta que me fazem passar em qualquer lugar do mundo como um cidadão de bem.

Ser brasileiro é como ser esposo apaixonado traído. A gente sabe que é traído, mas morre de saudades e de amores, e um dia acaba voltando.